" O grande homem é o homem livre" - Kung-Fu-Tse (Confúcio - 孔夫子)

"A liberdade de imprensa é talvez a liberdade que mais tem sofrido pela

degradação da idéia da liberdade. (Albert Camus)

"Atrás da anonímia se alaparda a covardia, se agacha o

enredo, se ancora a mentira, se acaçapa a subserviência,

se arrasta a venalidade." (Rui Barbosa)


Meus textos

domingo, 3 de agosto de 2008

Auto-Estima e Cidadania

Quando comecei a ler o livro “A Dança do Universo”, de Marcelo Gleiser, a primeira idéia que me ocorreu foi que nós, brasileiros, temos a triste mania de valorizar o que vem de fora, ignorando os enormes valores que possuímos. O físico brasileiro é conhecido e reconhecido internacionalmente, lecionando e fazendo palestras. Possui um estilo de agradável leitura e linguagem acessível a qualquer leitor, mesmo que não detenha conhecimentos de Física, colocando ao alcance de qualquer pessoa o entendimento resumido da evolução filosófica e científica no que se refere à criação e o funcionamento do universo. É um instrumento importante para melhor nos conhecermos e compreendermos do mundo em que vivemos.
A auto-estima danificada do brasileiro compromete a percepção do verdadeiro fascínio que nosso chão e nossa gente exercem sobre os estrangeiros.
Nem percebemos nossos valores naturais e intelectuais que são exportados para todo o mundo sem que haja grande preocupação com a preservação dos direitos tão propalados em sociedades mais mercantilistas (ou materialistas?). Isto também identifica valores espirituais mais raros em outros países.
Na carona do precário espírito cívico do brasileiro e da sua passividade, paciência e eterna esperança aproveitam-se forças tendenciosas e espertíssimas para mexer com seus brios e lançá-lo em aventuras cujos resultados invariavelmente beneficiam poucos em detrimento da grande massa.
Assim fizemos nossa “independência” (ou morte?), nos aventuramos nas guerras cisplatinas, na guerra do Paraguai, na segunda guerra mundial e ficamos entusiasmados com o “milagre brasileiro”, só para citarmos os fatos mais significativos.
Neste mesmo patamar se situa o chamado “pacto áureo”, calcado numa obra de título apelativo, promovendo o Brasil ao status de “coração do mundo, pátria do evangelho”, propalado pela Federação Espírita Brasileira e ainda hoje evocado por muitos conservadores Espíritas que buscam uma hegemonia utópica e repetido por pessoas menos avisadas que foram “doutrinadas” nesse contexto. A maioria nem sabe do que fala, fica na superficialidade, acha linda a pomposidade do título do livro de Humberto de Campos e nem tem o trabalho de analisar o seu conteúdo.
Frases de efeito são repetidas e divulgadas insistentemente, vindo ao encontro da índole mística do nosso povo, terreno fértil à massificação do Espiritismo, que, via de regra, não é compreendido em toda sua amplitude.
Quando conhecemos pessoas espíritas é normal que as primeiras conversas sejam um desfiar de atividades de assistência aos necessitados. Até se apóiam na afirmação de Kardec que “fora da caridade não há salvação” para justificar o empenho nas práticas assistencialistas. Justas, benéficas, meritórias, mas limitadas porque não estimulam a auto-estima ou a conquista da cidadania.
A expansão de cunho religioso avança pelo mundo com a influência poderosa do CEI – Conselho Espírita Internacional. Entretanto, estamos cada vez mais distantes do Espiritismo de Kardec, com seu perfil perquiridor, despido dos acessórios que o induzem ao religiosismo, apesar da postura aparentemente mais democrática da atual diretoria da Federação Espírita Brasileira.
O viés religioso por si só não é pernicioso. Ao contrário, pode ser extremamente benéfico desde que não se atenha aos modelos vigentes no mundo ocidental, que tendem ao descrédito em função do conservadorismo, do dogmatismo e do antagonismo em relação às ciências. Além, é claro, daqueles que abrigam aproveitadores de última hora que se beneficiam da fé alheia para amealhar recursos financeiros.
Vivemos um momento peculiar da nossa história, em que cada vez mais se preconiza a conquista do homem livre, participativo, educado. Esta idéia já habita a psicosfera das sociedades que buscam a modernidade e dos indivíduos formadores de opinião. Entretanto, ainda precisamos vencer muitos obstáculos, no nosso próprio íntimo ou na sua projeção nos grupos de atuação, para superarmos o corporativismo e os interesses localizados que emperram a marcha para o equilíbrio e justiça social.
Eis um rico filão a ser explorado! Enorme campo de atuação bastante adequado ao Espiritismo!
Os espíritas, compreendendo bem a filosofia que abraçamos, temos papel importante a desempenhar na construção de uma sociedade mais justa, exatamente por duas características fundamentais: compreensão da vida em toda sua amplitude e responsabilidade individual na evolução pessoal e social.
Assim sendo, precisamos transpor as barreiras que nos mantêm confinados aos centros espíritas onde as tarefas do cotidiano são exercidas há décadas ignorando completamente a realidade social e política em que vivemos. Precisamos mais do que nunca salientar a característica questionadora, progressista e livre-pensadora do Espiritismo, ombreando com as políticas públicas que hasteiem ao topo a bandeira da liberdade através da educação.
Não é caminho fácil porque a carência moral é ainda monstruosa, mas a conquista da cidadania passa exatamente pela superação dos pequenos e grandes malefícios que infestam todas as organizações, exigindo paciência e perseverança para alcançar a vitória, ainda que gradual e lentamente.

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